Não tenho filhos. Por variadissimos motivos, não chegou essa altura da minha vida. Ainda. Pela minha maneira de ser, pela minha maneira de amar, pela minha maneira de observar, e pela familía que tenho, gosto de familías em especial. Gosto dos filhos dos outros, não por serem dos outros, e por saber que se chorarem, que se precisarem de colo e que se passarem noites em branco, não vou ser eu que vou estar acordada ao lado deles, para tudo o que possam querer, para tudo o que possam precisar. Gosto do G., gosta da G., das crianças que têm crescido comigo, e das outras que têm passado apenas pelo meu colo. Gosto de observar o amor dos pais pelos filhos. Gosto do amor que une familías, das familías que se criaram, e de familías que se foram criando, que se foram adaptando, e amando à medida crescente. Penso várias vezes nisto, de se amar um alguém já com filhos. Filhos de um outro amor, de um outro amor que pode já não o ser, mas que já o foi, e perante os filhos, (acho que) o será sempre. Sempre achei que nestas relações, era dar um amor a dobrar: amar duas vezes, conquistar duas vezes, e duas vezes mais. A pessoa em si, o filho, e o coração da pessoa em relação ao filho que é tão seu. (Vão mandar-me estar calada que não sei do que falo. Mas aprecio.) Mas sobre isto, encontrei quem realmente está na pele, e quem realmente descreveu tão bem aquilo que eu penso.
"...com os ritmos desta vida louca, que tantas vezes quebra o caminho originalmente pensado, as novas famílias trazem consigo os novos pais: os pais dos filhos que já existem, que serão nossos por interposta pessoa, e não nossos de sangue. admiro, muito, sempre que vejo alguém cuidar com ternura do filho de outra pessoa como se fosse dele. quando se quer com o mesmo carinho, o mesmo cuidado, como se fosse nosso. quando se tem a mesma aflição permanente.. eu nunca tinha amado por interposta pessoa. amei os meus pais porque são meus, a minha família, porque é minha. por isso é tão novo e desafiante amar um ser, não por ele (ainda), mas por ser filho de quem é. amar o filho de com quem estamos, é das maiores provas interiores - para nós próprios - de querer. e de vontade, férrea, de ter uma família, uma história com quem amamos. e desafiante: a um filho nosso pode-se berrar, exigir, mandar. sabemos que ele nos irá querer sempre, só por sermos quem o trouxe a este mundo. ao novo filho, temos de conquistar, de cativar. temos de ser o pai, mas também o conquistador. temos de amar, mas também saber fazer com que nos amem. por isso, os novos pais são postos ainda mais a prova. são pais e namorados do mesmo filho. são educadores e, ao mesmo tempo, conquistadores. desafio docemente único. sim, eu amo o teu filho, porque é teu. será um dia um bocado meu, mas será sempre primeiro teu. e de quem o criou contigo. mas ver-lhe um sorriso por minha causa, faz-me feliz. saber que ele pergunta por mim, faz-me feliz. ouvir-te dizer o nosso filho, é a emoção mais pura numa palavra tão simples: nosso. porque mesmo sem o ser, anseio, vibro, sinto-me, todos os dias, pai dele. porque é o nosso filho. como o nosso amor."
No blog Momentos.
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